Liberdade de expressão, democracia e cultura do cancelamento
Resumo
O presente artigo trata da cultura do cancelamento como resposta a opiniões sobre produções culturais contemporâneas. Busca-se responder a seguinte pergunta-problema: a cultura do cancelamento é compatível com a liberdade de expressão? O objetivo é defender que a cultura do cancelamento pressupõe uma concepção normativa de cidadania democrática, segundo a qual o povo só é livre se for capaz de contestar seus arranjos políticos e sociais. Para tanto, define-se como objetivos específicos: 1) delimitar o que se entende por cultura do cancelamento; 2) explicitar a partir das premissas de NY Times vs Sullivan uma concepção de cidadania democrática que dê suporte à cultura do cancelamento 3) argumentar que um ideal de tolerância decorre das próprias premissas que possibilitam a existência da cultura do cancelamento. Uma delimitação inicial do que se entende por cultura do cancelamento é feita a partir da conceituação proposta por Wilson Gomes (2020). Para compreender os fundamentos democráticos da liberdade de expressão e suas conexões com os aspectos deliberativos da esfera pública, adota-se como marco teórico proponentes da democracia deliberativa, como Robert C. Post e Denilson Werle. Assim, a investigação é jurídico-teórica, de caráter analítico e normativo, e sua metodologia consiste na análise de blocos de conteúdo por meio da argumentação.
Referências
ACCIOLY, Izabel. Black is King': intelectuais negros falam sobre texto de Lilia Schwarcz. [Entrevista concedida a] João Vieira. TAB, 5 de agosto de 2020. Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/08/05/black-is-king-intelectuais-negros-falam-sobre-texto-de-lilia-schwarcz.htm. Acesso em: 6 dez. 2020.
ACKERMAN, Elliot et al. A Letter on Justice and Open Debate. Harper’s Magazine, 7 de julho de 2020. Disponível em: https://harpers.org/a-letter-on-justice-and-open-debate/. Acesso em: 6 dez. 2020.
AVRITZER, Leonardo. Cultura do cancelamento, lugar de fala e a teoria crítica. A terra é redonda: Eppur si muove, 12 de agosto de 2020. Disponível em: https://aterraeredonda.com.br/cultura-do-cancelamento-lugar-de-fala-e-a-teoria-critica/. Acesso em: 6 dez. 2020.
BARZOTTO, Luis Fernando. Filosofia do Direito: os conceitos fundamentais e a tradição jusnaturalista. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.
BENTES, Ivana. Nós, os brancos, e a nova partilha discursiva. Revista Cult, 12 de agosto de 2020. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/nos-os-brancos-e-a-nova-partilha-discursiva/. Acesso em: 6 dez. 2020.
BINKOWSKI, Brooke et al. A more specific letter on justice and open debat. The objective, 10 de julho de 2020. Disponível em: https://www.objectivejournalism.org/p/a-more-specific-letter-on-justice. Acesso em: 6 dez. 2020.
BRANDOM, Robert. Making it explicit: Reasoning, Representing and discursive commitment. Cambridge/London: Harvard University Press. 1994.
CAMILLOTO, Bruno. Direito, Democracia e Razão Pública. Belo Horizonte: D´Plácido, 2016.
CAMILLOTO, Bruno; CAMILLOTO, Ludmilla. Tolerância Liberal e Pluralismo: uma crítica a heteronormatividade. Revista de Direito da Faculdade Guanambi, Guanambi, v. 4, n. 1, jan./jun. 2017. Disponível em: http://revistas.faculdadeguanambi.edu.br/index.php/Revistadedireito/article/view/131/57. Acesso em: 6 dez. 2020.
CAMILLOTO, Bruno. Liberdade: a condição de possibilidade do pluralismo a partir do pensamento de Rawls. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM, Santa Maria, v. 14, n. 3, e31429, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.5902/1981369431429. Acesso em: 6 dez. 2020.
DOUTHAT, Ross. 10 Theses About Cancel Culture. New York Times, 14 de julho de 2020. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/07/14/opinion/cancel-culture-.html. Acesso em: 6 dez. 2020.
ESTADOS UNIDOS. Suprema Corte. Cantwell v. Connecticut, 1940.
ESTADOS UNIDOS. Suprema Corte. New York Times Co. v. Sullivan, 1964.
ESTADOS UNIDOS. Suprema Corte. Gertz vs Welch, 1974.
FOLHA DE SÃO PAULO. Leia manifestos sobre cultura do cancelamento e liberdade de expressão, 17 de julho de 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/07/leia-manifestos-sobre-cultura-do-cancelamento-e-liberdade-de-expressao.shtml. Acesso em: 6 dez. 2020.
GOMES, Wilson. O cancelamento da antropóloga branca e a pauta identitária. Folha de São Paulo, 11 de agosto de 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/08/o-cancelamento-da-antropologa-branca-e-a-pauta-identitaria.shtml?utm_source=mail&utm_medium=social&utm_campaign=compmail. Acesso em: 6 dez. 2020.
HABERMAS, Jügen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações sobre uma categoria da sociedade burguesa. Tradução Denilson Luís Werle. São Paulo: Unesp, 2014.
KEHL, Maria Rita. Lugar de "cale-se"!. A terra é redonda: Eppur si muove, 10 de agosto de 2020. Disponível em: https://aterraeredonda.com.br/lugar-de-cale-se/. Acesso em: 6 dez. 2020.
MADISON, James. States’ Rights and Freedom of Expression; Report on the Virginia Resolutions, January 7, 1800. In: KETCHAM, Ralph. (Org.). Selected writings of James Madison. Indianapolis: Hackett Publishing Company, 2006.
NWANEVU, Osita. The Willful Blindness of Reactionary Liberalism. The New Republic, 6 de julho de 2020. Disponível em: https://newrepublic.com/article/158346/willful-blindness-reactionary-liberalism. Acesso em: 6 dez. 2020.
PETRONI, Lucas. Temos o dever de tolerar?. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 15, p. 95-125, dez. 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-335220141505. Acesso em: 6 dez. 2020.
POST, Robert C. The constitutional concept of public discourse: outrageous opinion, democratic deliberation, and Hustler Magazine v. Falwell. Harvard Law Review, v. 103, n. 3, p. 601-686, 1990. Disponível em: https://doi.org/10.2307/1341344. Acesso em: 6 dez. 2020.
POST, Robert. Recuperating first amendment doctrine. Stanford Law Review, v. 47, n. 6, p. 1249-1281, 1995. Disponível em: https://digitalcommons.law.yale.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1199&context=fss_papers. Acesso em: 6 dez. 2020.
POST, Robert. Participatory Democracy and Free Speech. Virginia Law Review, v. 97, n. 3, 2011. Disponível em: https://legacy.virginialawreview.org/volumes/content/participatory-democracy-and-free-speech. Acesso em: 6 dez. 2020.
RAWLS, John. A Theory of Justice. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1999.
RODRIGUES, Cristiano. Pode o cancelado cancelar?. Gama Revista, 11 de agosto de 2020. Disponível em: https://gamarevista.com.br/sociedade/pode-o-cancelado-cancelar/. Acesso em: 6 dez. 2020.
ROMANO, AJA. Why we can’t stop fighting about cancel culture. Vox, 30 de dezembro de 2019. Disponível em: https://www.vox.com/culture/2019/12/30/20879720/what-is-cancel-culture-explained-history-debate. Acesso em: 6 dez. 2020.
SCHAUER, Frederick. Public Figures. Wiliam & Mary Law Review, v. 25, n. 5, p. 905-935, 1983. Disponível em: https://scholarship.law.wm.edu/wmlr/vol25/iss5/8/. Acesso em: 6 dez. 2020.
SCHUCMAN, Lia Vainer. O que o 'medo branco' tem a dizer sobre lugar de fala, raça, Beyoncé e cancelamento. Folha de São Paulo, 13 de agosto de 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/08/o-que-o-medo-branco-tem-a-dizer-sobre-lugar-de-fala-raca-beyonce-e-cancelamento.shtml. Acesso em: 6 dez. 2020.
SCHWARCZ, Lilia. Filme de Beyoncé erra ao glamorizar negritude com estampa de oncinha. Folha de São Paulo, 2 de agosto de 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/08/filme-de-beyonce-erra-ao-glamorizar-negritude-com-estampa-de-oncinha.shtml. Acesso em: 6 dez. 2020.
WERLE, Denilson Luis. Razão e democracia: uso público da razão e política deliberativa em Habermas. Trans/Form/Ação, Marília, v. 36, p. 149-176, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-31732013000400010. Acesso em: 6 dez. 2020.
Copyright (c) 2021 Bruno Camilloto, Pedro Urashima

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Os direitos autorais dos artigos publicados são dos Autores, com direitos do periódico sobre a primeira publicação, impressa e/ou digital.
Os Autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente a Revista de Direito da Faculdade Guanambi como o meio da publicação original. Se não houver tal indicação, considerar-se-á situação de auto-plágio.
A reprodução, total ou parcial, dos artigos aqui publicados fica sujeita à expressa menção da procedência de sua publicação neste periódico, citando-se o volume e o número dessa publicação, além do link DOI para referência cruzada. Para efeitos legais, deve ser consignada a fonte de publicação original.
Por se tratar de periódico de acesso aberto, permite-se o uso gratuito dos artigos em aplicações educacionais e científicas desde que citada a fonte, conforme a licença da Creative Commons.
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
The copyright of the published articles are of the Authors, with rights of the journal on the first publication, printed and/ or digital.
The Authors may only use the same results in other publications clearly indicating the Guanambi College Law Journal as the medium of the original publication. If there is no such indication, a situation of self-plagiarism shall be considered.
The reproduction, in whole or in part, of the articles published herein is subject to the express mention of the origin of their publication in this journal, citing the volume and number of this publication, in addition to the DOI link for cross-reference. For legal purposes, the original publication source shall be allocated.
Because it is an open access journal, it is allowed the free use of articles in educational and scientific applications provided that the source is cited, according to the creative commons license.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Non-Commercial-ShareQual 4.0 International License.